O EROI SEM NEM UM AGÁ

ZÉ DO ROCK – REZUMU DU LIVRU

 

Coppyrite Zé do Rock

Coppyrong também Zé do Rock

O original em alemão tem o título fom winde ferfeelt, um trocadilho com o famoso clássico E o vento levou. Ele foi publicado em junho de 1995 pela Edition Diá, Berlin. Os direitos do livro se encontram desde novembro de 1996 na editora Gustav Kiepenheuer Verlag, Leipzig.

No Brasil o livro ZÉ DO ROCK - O EROI SEM NEM UM AGÁ - foi lançado em julho de 1997 pela Editora LPM, de Porto Alegre.

O livro é a história da minha volta ao mundo. Eu viajei de carona com carro, aviao, navio, trem, carroça e bicicleta por 105 paises. A viagem levou 13 anos e eu tive uma porrada de problema com ladrao, polícia e mulher. Muita gente riu 2 ou 3 vez quando leu o livro, e teve até um cara que riu 4 vez.

A linguagem usada no original foi ultra-doitsh (ultra-alemao). Eu sugiro a simplificaçao da ortografia por estágios: 2 mudanças simples por ano até o ano 2012. No livro eu apresento uma mudança por capítulo, de forma que a ortografia se distancia da ortografia tradicional até chegar no máximo de diferença no fim do livro.

A versao brasilera apresenta o brasilez (o nome final do sistema é brazileis). A idéia é: pra que ficar falando portuguez errado, se a gente pode falar brasilez certo? É só adaptar a ortografia a lingua falada no Brasil. Tamben na versao brasilera cada capítulo começa com uma mudança.

Até agora teve 14 programa de TV, 23 programa de rádio e 105 jornais que se ocuparam co livro (o último livro do Gabriel Garcia Marquez, que é o autor mais vendido do mundo, teve 110 crítica). No Brasil, 12 programa de TV (incluindo Jo 11 ½, Jornal da Globo e Video-Show da Globo), 5 de rádio e 13 jornal fizeram programa ou crítica sobre o livro.

Comentários da imprensa:

Lendo o livro, eu fiquei imaginando daonde vinha aquela profundo sentimento de euforia e satisfaçao – SÜDDEUTSCHE ZEITUNG. O autor escreve de uma forma tao interessante e divertida que ele se prejudica: o leitor fica com vontade de por o livro de lado e viajar ele mesmo - FAZ. Nada é mais interessante que a obra de gente que fica balançando entre genialidade e locura, e mesmo assin conservum o seu humor – PRINZ. Um dos melhores livros dos últimos cinco anos – NOVA CULTURA.

O autor nasceu fas muito tempo em Porto Alegre, Brazil, num estudou nada, fes o filme NO ELEPHANTS (que se chama assin porquê num tinha elefante no filme) e ele ainda ta vivo, morando a maior parte do tempo em Munique, Alemanha.

Kizé perguntá cuauké côiza, é só contatá zedorock@muenchen.org.

EXCERTOS DO LIVRO

  • PEQUENO DICIONÁRIO PRA COMESSAR

  • alto-falante - tagarela com mais de l,80 m de altura

    ama-seca - sujeito que gosta do sertão

    amortecedor - anestésico

    anão - o contrário de assim

    antipatia - ódio por pato

    artesão - atmosfera sexy

    aspirador - campeão doido

    assassino - nego que vive botando fogo em igreja

    aveia - mamãe

    baldio, terreno - área cheia de balde

    barômetro - aparelho para medir barões

    bebedouro - criancinha rica

    biscoito - trepada repetida

    brincadeira - assento feito de jeans

    maneta - pessoa que não tem mão

    caneta - pessoa que não tem cão. a palavra pra pessoa que não tem

    punho eu não vou dizer

    carteira - mulher que entrega carta

    malcriado - mordomo ruim

    dedução - parte da mão ainda saudável

    desemprego - uma dezena de crucificados

    dispensa - cara que fala sem refletir

    divisão - p. ex. ele é um cara divisão (ai, ai)

    expansão - pessoa que tinha antigamente uma puta barriga

    fartura - quando farta tudo

    E agora uma conversinha de autor para leitor. Eu passei os últimos l3 anos viajando pelo mundo, a metade desse tempo na Alemanha. Vira e mexe eu voltava para lá, onde eu sempre tive um emprego ruim mas garantido, bons amigos, boas amigas e a Alemanha é bem central. Se bem que eu tenha tido contato com a língua alemã desde o berço, o alemão que eu conheço é o catarinisch, o alemão de Santa Catarina, do sul do Brasil, que é um alemão de várzea, sem flexões e com quase todos os substantivos em português. Em português sulista, ainda por cima. É um alemão que poucos alemães da Alemanha conseguem entender bem. De forma que não foi muito fácil para mim quando eu tive contato com o alemão da Alemanha pela primeira vez. Existem dois clichês sobre essa língua: ela é violenta e ela é complicada. O primeiro clichê é falso, a idéia da violência do alemão se deve ao fato de a maioria das pessoas só ouvirem alemão em filme de guerra americano, onde algum sargento besta fica gritando ordens, o que aqui na Alemanha é uma cena rara. Eu pelo menos nunca vi um sargento gritando ordens. Na verdade acho que nunca vi um sargento alemão, e se ví, não sabia que era. Gente fardada aqui é coisa raríssima. Além do mais se alguém na Alemanha falar alto daquele jeito ele acaba sendo multado. Com o segundo clichê eu concordo plenamente. O alemão é uma língua complicada. Os alemaes sempre se desculpam dizendo que a língua é complicada mas em compensação bastante exata. É nada. É uma das línguas mais caóticas que eu conheço. Se o alemão pode escolher entre simples e exato ou complicado e inexato, ele não tem dúvida em se decidir pela segunda opção. Foi pensando nisso que eu comecei a escrever um livro, criticando e satirizando a língua. E para não ficar na crítica destrutiva, resolvi mostrar que dá para ser simples também e inventei o ultradoitsh, o ultra-alemão.

    Eu logo percebi que um livro que só tratasse disso não seria lido por ninguém a não ser alguns lingüistas, e resolvi diluir esse assunto numa longa história, diluir o remédio amargo num suco gostoso para ninguém ficar reclamando. De forma que o leitor compra a linguística e leva a minha autobiografia de brinde, que é o que na verdade interessa ao freguês.

    Bom, como eu contei a minha vida aos alemaes, seria injusto não contá-la aos brasileiros. Os meus conterrâneos também têm que sofrer. E se l0% do livro em alemão tratam da língua alemã e do seu aperfeiçoamento, nada mais justo que eu faça o mesmo com a língua portuguesa na versão brasileira. Criando de uma vez por todas a língua brasileira, para que paremos de falar português errado e falemos brasileiro certo. Quando eu digo brasileiro, sempre soa como se eu estivesse falando de gente, não de língua. Por isso vou chamar a língua de brasilês, que pode ser definido como língua independente ou dialeto do português. Não é justo que l50 milhões de pessoas se deixem tiranizar por um povo de l0 milhões, principalmente quando esse povo não gosta mais do nosso povo e muito menos dos nossos dentistas.

    Você talvez se pergunte por que um cara jovem e bonito como eu já está escrevendo a autobiografia. Mas é que se eu não fizer isso e morrer de repente sem querer, ninguém vai querer cuidar do assunto. Sem considerar que ninguém além de mim pode escrever uma autobiografia sobre a minha pessoa, que daí não é auto. Ou o cara escreve uma autobiografia sobre o fusquinha ou sobre o Opala. Isso sim que é uma autobiografia. E agora eu peço licença para passar para o próximo capítulo, antes que as minhas piadas fiquem piores.

    Às vezes eu dou aulas particulares de português e de outras línguas como inglês, francês, espanhol e alemão. Fora o alemão, o português é a língua mais difícil de ensinar. Primeiro porque o português tem uma escrita que corresponde pouco à lingua falada, e segundo porque eu não consigo decidir que língua ensinar: o português oficial do Brasil, que se pode ler em qualquer livro ou ouvir na televisão, no rádio ou nas escolas (dos professores, não dos alunos), ou a língua brasileira, que se ouve em qualquer rua do Brasil? Normalmente qualquer professor tende a ensinar o "certo", mas isso pode ter conseqüências desastrosas para o aluno estrangeiro. Eu sei de uma argentina que estudou três anos o português brasileiro antes de ir ao Brasil. Chegando ao Brasil e escutando as pessoas falarem, ela chegou à conclusão de que ou ela tinha vindo ao país errado, ou tinham ensinado a língua errada ou no Brasil nunca se falou português. Por isso eu tenho que ensinar duas línguas aos meus alunos, o que faz com que a língua seja exatamente o dobro mais difícil.

    O português é uma ruína do latim, e o brasileiro é uma ruína do português. Mas pelo menos o português se assumiu como língua, ninguém fala português e diz que fala um latim ruim. Já o brasileiro não se assumiu, e por isso dizemos que por exemplo a frase "eu num to nem aí" ou "eu vi ele" é português ruim. Português ruim é o que acontece muito em filme, onde misturam português oficial com gíria brasileira: eu não estou nem aí, bicho. ou: você está bem, cara? (em vez de eu num to nem aí, bixu ou ce ta bem, cara?

    No fim das contas, temos 4 línguas "portuguesas": o português de Portugal, o português escolar do Brasil, o português oficial do Brasil e o brasileiro. No primeiro escrevemos tu estás e dizemos tu âchtách ou tu chtach. No segundo escrevemos tu estás e dizemos tu istás. No terceiro escrevemos você está e dizemos você istá. No quarto não escrevemos, só falamos: cê tá. Ensine ao estrangeiro você está e ele não vai ter a menor idéia do que você está falando ao dizer cê tá.

    Claro que existem as diferenças regionais: em algumas regiões as pessoas dizem tu tá, em algumas se pronuncia o s como ch, tem gente que diz arroz em vez de arrois, outros dizem comeno em vez de comendo, parmito em vez de palmito. Mas essas diferenças tendem a diminuir, graças à televisão, e de modo geral pode-se dizer que os brasileiros falam todos o mesmo idioma, principalmente nas metrópoles. Sempre houve e sempre haverá a discussão se podemos falar de língua brasileira. Para mim essa discussão é irrelevante. O fato é que a nossa vida seria mais fácil se escrevêssemos como falamos. Porque esse português do Brasil de rua ou esse brasilês é uma língua bastante simplificada, tanto na fonética como na gramática, e se a assumíssemos, não teríamos que aprender uma língua simples e uma língua complicada, e sim só uma língua simples. Podem chamá-la de brasilês ou de português brasileiro, pra mim dá na mesma. Eu chamo de brasilês porque dá menos trabalho. Para não nos distanciarmos culturalmente dos países de língua portuguesa, poderíamos dizer que o brasilês é um dialeto português.

    Pra que esse projeto "brasilês" começasse a ser aplicado, ele deveria ser aprovado por um plebiscito. Ele não deve ser considerado um pacote completo que se "compra" ou não, e sim como um supermercado de onde o público leva o que acha bom ou necessário. Se as mudanças aprovadas forem muitas, seria o caso de se considerar várias reformas, por exemplo uma mudança a cada 10 anos, 2 mudanças por ano ou 5 mudanças a cada 10 anos. Nesse livro haverá via de regra uma mudança a cada três capítulos. Na hora de mudar eu só dou uma explicação curta da mudança. Quem estiver interessado no aspecto linguístico, em explicações mais detalhadas e na minha defesa, pode ler o Capítulo para Linguistas, quase no fim do livro.

    Se eu fosse escrever com as mudanças acumuladas, a leitura a partir de um certo ponto ficaria cansativa. Por isso, até a regra do C/S/Z/Q/X/K eu escrevo com as regras acumuladas até ali, são as "mudanças de base". A partir desse momento, eu apresento uma mudança num capítulo, escrevo segundo a nova regra, 3 capítulos depois apresento a próxima e escrevo com as duas mudanças. Quando chegar a hora de apresentar a terceira mudança, as outras duas anteriores desaparecem e eu começo tudo de novo. Só no penúltimo capítulo o texto será escrito com todas as regras acumuladas. No último serão só as duas mudanças iniciais.

    De qualquer forma, eu sugiro que a ortografia antiga continue sendo paralelamente válida, para as pessoas que não puderem se acostumar com a nova. Mas também essas pessoas um dia vão estar extintas.

    Talvez você não goste nem um pouco da nova ortografia. Nesse caso, espero que você pelo menos se divirta com a minha biografia. Se você gostar da minha ortografia, você pode passar a usá-la, já que esperar que a Academia Brasileira de Letras mude algo é uma atitude muito otimista. Claro, mudar eles vivem mudando: um acentinho a menos aqui, um z por um s ali (onde eu não vejo a razão de ser), mas no fim das contas a língua contém um emaranhado gigantesco de regras que só eles mesmos entendem. É lógico que seja assim, porque se as regras fossem simples, os acadêmicos não se diferenciariam mais do povão e passariam a ser meros mortais. Mas existe a chance de um número razoável de pessoas passarem a escrever brasilês e isso se espalhar tanto que eles não tenham outro remédio a não ser oficializar o fato. As aulas de português seriam reduzidas a umas poucas explicações ortográficas e à redação, assim os alunos poderiam ter mais aulas de matérias realmente importantes. Sem mencionar o fato de que a nova ortografia é muito mais econômica, assim o país economiza papel e madeira. A selva amazônica agradece...

    Outra vantagem é que os portugueses poderiam aprender brasilês e não ficariam dando bandeira por aí. Que no Brasil pega mal falar português, porque as vítimas das piadas no Brasil são os portugueses. Todos os povos têm uma vítima: os ingleses têm os irlandeses, os franceses têm os belgas, os alemães tem os austríacos, só os portugueses não têm vítimas para as suas piadas. Isso porque quando um português conta uma piada para o outro, os dois não entendem (eu sei, eu sei, hoje em dia eles contam piadas sobre os brasileiros, mas isso é besteira, porque brasileiro não é burro).

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    Os batista não são batizado quando nasce. Eles só são batizado quando decidem ser batizado, quando eles ganham uma vontade louca de ser batizado. Isso eles ganham em geral na puberdade: l2, l4 ou l6 ano, por aí. Meu irmão tava com l3 ano quando ele ganhou essa vontade louca. Uns dia antes do acontecimento, ele teve um mau pressentimento, contou pro pastor que ele não tava seguro e o pastor falou pra ele deixar o batismo pra mais tarde. Ele começou a questionar alguns aspecto do cristianismo e foi ficando cada vez mais encucado. Eu tentei explicar pra ele porque o cristianismo é bom pra cacete, e acabei encucando também. Discussão pra lá, discussão pra cá, a gente chegou a conclusão que o homem não pode ter culpa nenhuma pelo que fez e faz. Ele pode tomar milhões de decisoes, mas no fim das contas quem toma essas decisão é o resultado da genética e do meio em que ele cresceu. E ele decidiu ser esse resultado? Não. Nem o Einstein nem o Hitler decidiram ser, quando eram criança, o Einstein e o Hitler. Senão só teria Einstein por aí e o Hitler nunca teria existido.

    Se não existe culpa, pra que esse Deus que gosta de punir? E logo a gente chegou na história do Adão e da Eva. Você tem que imaginar: um pai deixa o filho pequeno num quarto cheio de brinquedo, no meio do quarto ele põe uma caixinha e diz: -pode brincar com tudo nesse quarto, mas se você mexer nessa caixinha eu te mato. Daí o pai sai pra fazer compra e volta alguns ano depois. Enquanto isso, um tio muito safado entra no quarto (que Deus deixou aberto) e diz: -olha, cê já andou brincando com tudo, agora você podia dar uma olhada nessa caixinha. Cê não vai nem acreditar o que tem lá dentro! Nunca mais o teu pai vai dar bronca em você porque você vai ser maior e mais forte que ele.

    O pai volta, vê a caixinha aberta, pega o filho, faz uma fogueira e joga o moleque nela. Foi o que aconteceu no paraíso com a macieira braba. Agora eu pergunto a você: na justiça dos homens, quantos ano de cana esse pai ganharia? No mínimo prisão perpétua, e se fosse nos States, cadeira elétrica. E não é só isso: esse pai gosta que os filho fiquem o dia inteiro falando: pai, você é bom, mesmo, hem? Nossa, pai, você é o maior.

    Assim não tem condições. Eu prefiro o deus dos índio, o deus sol: se eu acreditar nele ou não, ele aparece lá, toda manhã. Ele nunca pediu pra eu ficar adorando ele, mas eu adoro ele do memo jeito. Ele não castiga (a não ser que cê teja no saara no verão, mas aí a culpa é tua), ele dá calor, dá luz e sem ele eu não poderia viver. Eu nunca teria nascido.

    E depois, o coitado do Adão acreditou na mulher dele, o que só mostra quanto ele era ingênuo. E desde quando ingenuidade é pecado? Mais tarde falaram pro Adão que isso não se faz, mas Deus, que deveria ser um cara legal, não avisou.

    A Eva era mais coitada ainda. Essa aí não tava sacando nada. Quando Deus proibiu o Adão de chegar na árvore proibida, a Eva nem existia. Deus avisou Adão em Gênesis capítulo 2 versículo l7, enquanto que a Eva só foi (mal)criada no capítulo 2 versículo 22.

    Bom, essa história não tem valor simbólico nem histórico: todo mundo tá sabendo, o Darwin já explicou tudo: primeiro chegaram as ameba, daí os peixe, os réptil, os mamífero, os macaco, os homem e finalmente os japonês.

    Apesar da minha tenra idade de 11 ano eu discutia noite adentro co meu pai e co pessoal da igreja. Eu fui ficando cada vez mais desagradável, até que ninguém mais queria discutir comigo ou co meu irmão. Às vez eles olhavam pra gente como se a gente fosse a encarnação do demônio.

    Eu odiava a situação. Eu comecei a beber muita pinga, que o negócio é começar cedo se o cara quer fazer carreira. É que nem no tênis ou no futebol. Eu não só bebia, eu também pensava intensivamente sem parar e lia livro de filosofia, de preferência tudo no original. Kant em alemão, Voltaire em francês e Mafalda em espanhol. Desse tempo não ficou o menor traço no meu cérebro. O Hegel por exemplo não entendia direito o que tava falando, imagine então um outro alemão. E imagine um brasileiro lendo aqueles livro em alemão.

    Aí eu li o Descartes e gostei da idéia dele: acabar com todos os pressupostos, preconceitos, pré-conceitos e começar com uma folha em branco. Infelizmente logo depois o homem já começa a delirar: penso, logo existo. E com essa frase ele acaba provando a existência de Deus e do mundo. Quanta besteira, meu Deus. Já a primeira frase não tem nada a ver com lógica. Se eu penso, isso só quer dizer que esse pensamento existe: eu penso. Mas daí eu não preciso ser precipitado e achar que fui eu que pensei. Talvez a única coisa que existe no mundo é esse pensamento, eu penso. Você pode dizer que tem vários pensamentos, mas você só pensa um pensamento por vez. Talvez os outros pensamentos que você teve antes (até mesmo dois segundo atrás) são só uma impressão. Quando você "volta" a pensar esse pensamento, você só tá pensando esse pensamento. Sempre um por vez. O resto pode ser ilusão. A lógica pura conduz a um beco sem saída. Felizmente eu lí o Sócrates e descobri a frase QUANTO MAIS SEI, MAIS SEI QUE NADA SEI. (hoje em dia ele diria: quanto mais eu sei, mais eu sei que eu num sei porra nenhuma). Ah, com essa frase eu só podia concordar. A diferença foi nas conclusão que ele tirou e eu tirei: ele continuou pensando e acabou enchendo o bucho de veneno. Eu parei de pensar e fui parar no buteco: - ô Mané, vê uma aí. Estupidamente gelada.

    xxx

    aqui de novo o radio-táxi 3183 na Hanauer Strasse em München. 4 da manhã, já tá clareando. de repente isso aqui parece o oklahoma. ou o planalto central.

    e teve esses 3 japonês que entraram no meu táxi do Holiday Inn. um deles falava um pouco de inglês.

    -nós quer autobahn (auto-estrada).

    -que autobahn? tem muita autobahn. pra onde cês quer ir?

    -autobahn. certo.

    -mas qual, pô? onde cês querem ir?

    -sight-seeing (volta turística pra ver alguma coisa).

    -mas que sight-seeing? agora é meia-noite, pô. não dá pra ver nada.

    -aaaahhh, áruta veroshidade, né?

    ah, agora eu entendi. no japão, como no mundo todo, tem limite de veroshi- digo de velocidade. acho que é l00 km/h. na alemanha não tem isso. se você tá a l20, você é uma lesma. às vez cê tá a l80, olha no espelho retrovisor e lá vem um carro num pau infernal. quando esse porsche ou bmw passa por você, você tem a impressão que tá parado. bom, eu vou uns 70 km pela autobahn e volto. o meu mercedes, que é diesel, não dá mais que l60, mas eles já tão maravilhado.

    -autobahn na aremanha, muito bom, né?

    -karo aremom, muito bom, né?

    -kuaro karo você acha merioro? karo aremom ou karo japonês?

    ah, o carro japonês é melhor, não tem dúvida.

    -nós tamo grupo grande turista, né? otros amigo foram pra crube noturno, né? murier, né? mas nós gostamo de karo.

    bom, melhor pra eles. eles pagaram 200 dólis pra uma hora de viagem, 65 por cabeça. os outro pagaram muito mais. que mulher nesse país é coisa cara.

    xxx

    de Quito eu vou direto pra Guayaquil, no litoral. nessa viagem eu como de tudo: leite quente direto da vaca, abacate, cenora que eu robo de plantaçao, croquete de camarao, croquete de batata, bolinho de carne, melao, chicha (uma bebida cor de rosa e indefinivel), café, cerveja, arroz com carne de porco e molho, etc. eu chego em Guayaquil e começo a passar mal, mas mal memo. eu procuro um banhero, infelizmente nao tem esse tipo de coisa em Guayaquil. Banhero publico nem pensar, em restaurante e buteco tambem nao tem. nos hotel eles nao me dexam entrar, a nao ser que eu pegue um quarto. eu ja tou muito mal, o meu desespero ja nao tem mais limites. no fim eu só tenho mais duas alternativa: cagar ou morrer. eu escolho a primera. num avenidao tem uma faixa verde separando as pista, é um tipo de jardim cuma sebe de uns 30 cm de altura. nao da pra me esconder atras de uma sebe de 30 cm de altura, mas é agora ou nunca. eu dexo cair e me livro de uns 2 kg. tem um pessoal que fica parado olhando pra mim, e dois deles sao policial. eles vem me encher o saco e me perguntam o que eu tou fazendo alí, eu dou a única resposta cabivel, cuma puta raiva: -cagándo! eles me dizem que isso nao é lugar pra se cagar, e eu pergunto pra eles onde que tem um lugar pra se cagar nessa cidade. como eles tambem nao tem resposta, eles acabam me deixando em paz.

    xxx

    de Guayaquil eu subo pro litoral norte, até chegar numa cidade chamada Esmeralda. quase toda a populaçao é de origem africana, como a gente diz nos meios mais educados, e a cidade tem uma vida noturna respeitavel. o chato é que eu até que toparia um hotel, mas ou eles tao cheio ou sao caro demais. no fim nao tem jeito: eu tenho que dormir na praia. eu tou quase chegando na praia e resolvo perguntar prum transeunte se tem um hotel por alí. ele nao sabe de nenhun, mas me aconselha a dar uma perguntada no predio da marinha, que as vez eles tem lugar. eu passo em frente e penso em perguntar mas acabo nao perguntando. eu me deito na praia, mas ainda tem muita gente passando e nao da pra me concentrar na dormiçao. depois de um tempo eu resolvo ir tomar uma cerveja e esperar a situaçao se acalmar. no restaurante só tem duas pessoa, o garçon e eu. a gente começa a conversar e no fim ele diz que eu posso dormir no restaurante. os banco comprido de madera nao sao soft que nem a areia da praia, mas menos arenoso. e de qualquer forma no restaurante é mais seguro, o garçon vai ficar la a noite toda, acordado, tomando conta. eu durmo que nem uma pedra. na manhâ seguinte eu acordo e noto que ta faltando algumas coisa na minha moxila, por acaso tudo aquilo que tem algun valor. eu penso em chamar o garçon e percebo que o garçon tambem ta faltando. bom, da minha moxila nao tinha muito o que robar, mas a minha segunda flauta transversal e a maquina fotografica se foram. a sorte é que o meu pai botou a flauta no seguro. o poco dinhero que eu tinha eu escondí tao bem que o garçon nao achou. chega a policia e é só aí que o dono do restaurante conta que o cara saiu da prisao fas duas semana, e que ele só tinha empregado o cara para ver se ajudava o sujeito a levar uma vida honesta. na verdade foi bom que eu nao acordei, porquê o garçon tambem levou algumas coisa do restaurante, inclusive a pistola.

    eu mando a declaraçao de robo que a policia me deu pro brasil e tenho que esperar pela restituiçao no ecuador. eu volto pra Quito. na viagem, um casal de americano me da carona. eles me convidam pra ficar na casa deles em Quito. casa nao, eles moram numa senhora mansao, só o jardim é quase tao grande quanto a selva amazonica, se você nao leva essa exagerada a mal. eu ganho um quarto que é mais um salao. na cama teria lugar pra mais l0 mulher. no quarto tem tudo que é bebida, uisque escocês, o melhor vinho francês, champanha, etc. na cortina tem um negocio pra chamar o mordomo ou a camarera. a comida é sempre um banquete. as vez eu tou me sentindo meio sacal no quarto, desço pra pegar alguma coisa pra comer ou conversar cos meus anfitriao. de shorts e de pé descalço eu encontro co embaixador da França ou o diretor da United Fruits. oba, tudo bom? e os negocios, vao bem?

    essa historia toda só tem um probleminha: os meus anfitriao me tratam muito bem, mas eles sao de extrema-direita. nao que eles sejam rassista ou coisa que o valha, muito pelo contrario. o negocio deles é o capitalismo como religiao. nao só que eles sao capitalista no sentido lato da palavra e fazem otimos negocios com a madera ecuatoriana. eles veem o capitalismo como instancia moral, eles pertencem a uma seita ateista e capitalista que é da opiniao que a infiltraçao comunista no mundo é geral, e que gente como Kennedy, Nixon, Ford foram tudo comunista infiltrado.

    bom, a vida nessa casa é muito confortavel e eu prefiro ver a coisa do lado folclorico. as opiniao deles sao tao absurda que nao chegam a me perturbar demais. mas nem sempre a conversa é facil, porquê qualquer visao do mundo que nao corresponda a visao linear deles é uma visao comunista, memo que seja uma visao muito mais filosofica (ou mesmo de carater pratico) que politica. e a gente começa a brigar cada vez mais, ja que a minha consciencia me enche cada vez mais o saco por eu tar vendendo a minha alma por um poco de luxo. no fim eu acabo indo embora, da infelicidade na riqueza pra infelicidade na pobreza.

    eu vou na residencia universitaria e faço amizade co Ramón. eu acabo morando no quarto dele. isso é proibido, mas o que que eu vou fazer? comer, eu como na cozinha, porquê eu nao tenho os cupom. na cozinha eu faço amizade cos cozinhero, nao ganho prato feito e sim o que sobrar. as vez nao sobra nada, entao o negocio é comer bastante quando sobra bastante. uma vez eu como (tomo) 2 litro de salada de fruta. depois eu visito um amigo que tem uma garrafa termica grande cheia de café e tomo 2 litro de café. o estado do meu sistema digestivo depois desse bombardeio eu nao vou descrever aquí que pode ser que você teja tomando o café da manhâ.

    o Ramón me acha engraçado, mas vive achando que eu devia tomar um banho de vez em quando. quando eu volto pra "casa" tarde da noite, eu nao acendo a luz mas ele sempre me reconhece pelo chero. é que essa historia de banho é um problema serio. a residencia nao tem banho, o jeito é ir no chuvero publico, que é pago. o problema nao é que o chuvero custa dinheiro, e sim que ele é frio. e isso em Quito é uma coisa bem desagradavel, e eu prefiro ficar um porquinho memo. mas as vez a pressao da patota vira tanta que eu vou la.

    no andar acima do nosso mora o Pablo, um cara pequeno e escuro, que fala pelo nariz e tem uns oculos que a gente podia pensar que ele na melhor das hipoteses é cego. com ele e com o Joaquín, um cara que parece um viquim passando fome, a gente sobe o Cotopaxi, 5900 m de altura. quer dizer, essa é a nossa firme intençao. no segundo dia a gente ta no meio da neve e de repente é cercado pelas nuvem, de forma que a gente nao sabe mais onde é em frente e onde é atras. a gente nao ve mais porra nenhuma e nao sabe se o proximo passo vai dar no abismo. daí a gente se perde um do outro, mas os tres acabam dando um jeito de descer aquela porra e ir pra casa. um dia depois eu encontro eles por acaso e eles nem mencionam o dia anterior. como se nao tivesse acontecido nada. pessoalzinho doido memo.

    xxx

    As veses 10 coincidencias acontecem numa serie, e numa serie dessas eu perco o meu passaporte, nao acho ele de novo e nao tem jeito de fazer otro no Ecuador, que o consulado brasilero, pra fazer um passaporte novo, quer 8 xerox da cartera de identidade, 8 xerox do titulo de eleitor, 8 xerox do certificado militar, 8 xerox da certidao de nascimento, 8 da certidao de casamento se eu for casado e 8 fotocopia da certidao de obito se eu ja morrí. E 500 dollares. De forma que eu tenho que entrar e atravessar a Colombia ilegalmente e fazer o passaporte no Brasil.

    em Puerto Asís eu resolvo dar um jeito na ilegalidade da minha situaçao. eu vou até a prefeitura e conto pro prefeito que acabaram de me robar o dinhero e os documento, inclusive o passaporte. será que nao dava pra ele me escrever uma declaraçao ou um salvo-conduto pra eu poder chegar no Brasil? ele manda a secretaria me dar um salvo-conduto até Sao Paulo. eu nao sei se a policia de Sao Paulo vai aceitar essa carta do prefeito de Puerto Asís, mas muito obrigado.

    uma curiosidade da giria colombiana é a palavra cuca, que la significa uma coisa que só mulher tem. no Brasil significa cabeça (que só homem tem). agora imagina uma brasilera que vai pra Colombia e fica rica. o pessoal pergunta pra ela comé que ela fez pra ficar rica e ela diz: -yo usé la cuca!

    eu vou todo dia no porto pra ver quando sai o proximo navio. mas demora e demora. um dia eu chego num navio e eles me dizem que vao sair a tarde. la pelas 11 da manhâ eu vou passear pela margem do rio e de repente eu vejo o barco ja la longe na curva do rio. eu corro pro hotel, pego as minhas coisa, pago e saio correndo atras do bicho. a minha sorte é que uns 2 km adiante ele da uma paradinha pra embarcar umas vaca. na verdade eu queria pagar, mas ninguen me cobra, nem o capitao que me viu subindo no barco com as vaca, e eu vou dexando por isso memo. eles acham que eu subí mais tarde pra nao pagar. mas se eles dexam por isso memo, eu tamben dexo. mais tarde o capitao me diz que como eu nao tou pagando eu podia pelo menos ajudar na cozinha. claro, nao tem problema.

    nesse barco a carne ou é caçada ou pescada. macaco, piranha, tartaruga, e uma vez um jacaré. tem um crioulao só de bermuda que caça quase tudo que vai parar na cozinha. ele fala que nem aqueles criolo de revista em quadrinho (utede que ban p'ocuro em vez de ustedes que van para lo oscuro), tem um trabuco que deve ter pertencido ao Aguirre. O trabuco pesa que nem um canhao e fas mais barulho que o peido do king-kong. ele ve uma garça, da um tiro, ela cai, eles vao la buscar. a garça nao tem sinal de tiro, parece que ela só desmaiou de susto.

    até agora a gente só viajou de dia, o capitao nao queria arriscar por causa da agua rasa. mas o rio por aquí ja ta ficando mais largo e mais fundo. vamo dar uma tentada. o por-do-sol lindo ja acabou, e uma escuridao tranquila envolveu a gente. eu tou sentado bem na frente do barco e a luz dos holofote ilumina os proximo 20 m. de repente uma arvore enorme vem na minha direçao. eu corro pra tras e a trombada é inevitavel. a arvore ainda varre uns barril pra agua e some nas trevas. o que que tava fazendo essa puta arvore no meio do rio? em todo caso ela fez um buracao no barco, tudo vai muito rapido, só tem um bote salva-vidas pra l00 pessoas, apocalypse now, as piranha ja se preparam com guardanapo em volta do pescoço, algunz naufrago começam a cantar aleluia e otros cantam "but it's aaaaaaall right...". acho que eu tou sonhando de novo. nao foi o titanic nao, nem o atlantico norte. isso aquí é um barquinho no Amazonas. tem um poquinho de panico, mas a tripulaçao é rapida e enche os buraco de cimento. tripulaçao competente.

    uns dia depois ja anoiteceu, a maioria ja ta dormindo e o capitao da a ultima volta pelo barco e ve uma cabeça de criolo na agua. e agora, foi só uma impressao ou a dura realidade? ele resolve conferir com a familia de criolo. agora a mae percebe que ta faltando um, e la vai uma expediçao de salvamento no bote pra achar o moleque. pra achar um neguinho na agua de noite ja é dificil, mas mais chato ainda é que o moleque nao sabe nadar e as piranha sabe. o tempo passa, e o bote volta e a gente nao ve moleque nenhun no barco. a mae desmaia, o bote encosta no barco e agora da pra ver que tem um moleque deitado no bote. neguinho assin nao morre tao facil nao.

    na frontera todo mundo tem que ir na migración. antes que eu tenha problema de novo, eu acho um cara cum barco a motor que me leva correndinho pro otro lado, pro Brasil varonil patria amada.

    a cidade brasilera na frontera é na verdade só um quartel e algumas loja que vendem pro pessoal do quartel. eu oví falar que as vez baxa um aviao da FAB por aquí que leva passagero de graça. eu falo co comandante do quartel pra ver se consigo uma carona no proximo aviao. a gente bate um papo e no fim ele dis que nao tem problema, eu posso voar na terça-fera. eu me despeço, pego a moxila, entra um soldado e comenta que eu tenho uma moxila cheia pa caralho. é, eu digo, ropa, livro...o comandante ove a palavra livro e resolve dar uma checada na minha moxila. ele acha uma ediçao em inglez do Capital, do Marx. eu comprei esse livro em Sao Paulo, em inglez pra melhorar o meu inglez. agora eu tou com a impressao que nao foi uma compra boa, principalmente porquê eu nao posso provar que eu comprei o livro em Sao Paulo. alen disso eu tenho varios livros de gente que o comandante nunca oviu falar, e todos em lingua estrangera. daí ele encontra anotaçoes em dau, a lingua que eu inventei. ele me pergunta que porra é essa, e eu digo a verdade: é uma lingua que eu inventei, que talvez um dia seja a lingua universal. ele acha que isso é um codigo. e como se isso nao bastasse, eu tou cheio de carta de amigo doido, como por exemplo do Ski, que fala de kabala e recita mitologia germanica, tudo no original. a gota d'agua é que eu nao consigo mais falar portuguez direito, depois de quase um ano de america espanhola. e eu nao tenho passaporte. eu explico tudo pro comandante, mas ele ja nao ta me acreditando mais nao. aquí nesse fim do mundo da Amazonia, onde ainda tem un resto de guerrilha, onde o mote dos militar é INTEGRAR PARA NAO ENTREGAR, essa historia toda nao pega bem. o comandante decide que por nao saber quem eu sou ele vai me mandar pra Tabatinga, uma cidade maior onde eles podem investigar o meu caso e me liberar, no caso de eu ser inocente.

    os milico vao me passando de uma cidade pra outra, num aviao Catalina que ja era velho quando meu avô era jovem, caindo aos pedasso (e quase caiu mesmo).

    em Tabatinga eles me prendem por uns dia. um sargento vem me interrogar, um cara cuma cara nao muito inteligente.

    -eu tou vendo pelo relatorio aquí que você andou viajando quase um ano. pra que?

    -bom, né, eu quero conhecer otros país, otras cultura, entende?

    ele nao diz nada, eu continuo.

    -quanto mais e melhor eu conhecer otras pessoas, mais eu vou conhecer a mim mesmo.

    -como assin? você nao se conhece, nao sabe quais sao as suas capacidade?

    -bom, isso sim, né. mas você sabe como é: como o Einstein ja disse, a gente só utiliza l0% da capacidade do cerebro.

    -só se for o Einstein. eu utilizo l00%.

    pode ser, né. os meus l0% me dizem que é melhor nao continuar a discussao com os l00% desse sargento. eu nao tou preso numa cela que aquí nao tem cela. eu tou num quarto normal cuma cama sem colchao. eu tenho que ficar 3 dia e 3 noite sentado nesse esqueleto de cama, cum soldado me vigiando. no domingo tem um que só fica batendo na parede co cassetete e me xingando por ter estragado o fim de semana dele.

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    O Brasil é um país legal, o unico problema é que ce tem que ficar distribuindo o seu dinhero pra desconhecido. O Brasil num é como a Alemanha ou a Fransa, onde os estrangeiro sao atacado. No Brasil num tem discriminassao nao, todo mundo é assaltado, tanto fas se é brasilero ou estrangero.

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    em München eu fui no cinema. ver o filme Pixote. foi dublado pro alemao, e os caras vivium falando que DIE MÄNNER ium chegar. MÄNNER quer dizer HOMENS, e um alemao do meu lado tava me perguntando que MÄNNER erum esses. depois é que eu me toquei: eles tavam falando DOS HOME, a policia. a proposito, policial na giria alemâ é BULLE, o toro. mais tarde no filme a palavra SCHINKEN aparece varias vezes. só que SCHINKEN quer dizer presunto mesmo, pra comer. comé que podem me traduzir uma barbaridade dessas? é como se cadaver numa otra lingua na giria fosse quejo. imagina ce ovir num filme: EU VOU TE MATAR PORQUÊ DAÍ EU NUM VOU TER MAIS PROBLEMA, PORQUE QUEJO NUM FALA.

    o melhor memo foi o filme sobre o caminhonero e a putaria no norte do país (acho que se chamava QUEM E BOM JA NASCE FORD, OU DIESEL, ou sei la). tem uma hora que um cara pede uma coisa que num devia pedir, o otro fica puto da vida e responde com putaqueopariu seu viado seu filho da puta e o scumbal. o cara xingou meio minuto. na legenda só apareceu NEIN (nao).

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    a minha mulher e eu saimo da prizao em Caracas, a gente pede carona pra Barquisimeto. um cara da carona pra gente, um professor de inglez ke convida a gente pra ficar na caza dele. a gente acorda na manhâ seguinte e o cara num ta em caza. na meza ele dexou um recado. I WENT OUT AND COME BACK TOMORROW. PLEASE FEED THE FISH. o meu inglez ainda num é 100%, mais eu entendí tudo. ele saiu, volta amanhâ e dis ke a gente pode comer o pexe. essa palavra FEED eu nao conhecia, mas ta na cara ke ela tem a ver com food, e food é comida. logo feed é comer. po, ece cara é legal memo, hem. dexa morar na caza dele e um pexe pra gente num morrer de fome. só ke nós olhamo na geladera e cadê o pexe? num tem pexe nenhun. a gente revista a cozinha, nem sinal do bicho. no fim o cara deve ter ficado com fome e comido ele mesmo o pexe. entao vamo comer otra coiza. mais tarde a gente ta sentado na sala e ve um pexe no acuario. uai, será que o cara mandou a gente comer ece pexe do aquario? o cara num deve ser muito bom da cabessa nao. só uns dias depois eu descobri ke feed ker dizer alimentar.

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    GOD'S OWN COUNTRY. Miami, na patria de Deus (os americano pensam que Deus é de la, os brazilero axum ke Deus é brazilero, mais do jeito ke a coisa ta no Brazil, é capaz ke eles tenhum razao mezmo). o inglez ke os meus professor de inglez falavum é bem mais facil de entender ke o inglez do motorista do onibus.

    -is this bus going to town? (ece onibus ta indo pra sidade?)

    -are whrihwam bluam bluam rr r zschwonveudnmdmdmm djd ride! ha ha ha!

    -sorry. i didnt understand. is this bus going to town? (desculpa, mais eu num entendi. ece onibus ta indo pra sidade?)

    -are whrihwam bluam bluam rr r zschwonveudnmdmdmm djd ride! ha ha ha!

    -sorry. i didnt understand again. is this bus going to town?

    -yes.

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    a gent continua a viagim pro nort e passa por Chattahoochee, depois Tallahassee e xega na I-10 ki vai pra California. os americano "normal" num parum pra ninguen, im compensassao ta xeio de criolo, bebun, eremita, comunista ki da carona pra gent. os gay num dao carona porkê eu tou com mulher. o americano normal é muito diciplinado no tranzito, mais ki por ezemplo o alemao, mais os americano "anormal", ki dao carona pra gent, sao ezatament o contrario. elis vao co carro no meio do mato, sobim montanha sem strada pra cortar caminho i vao di marxa ré na freeway. dos motorista ki dao carona pra gent 30% tem uma caxa de serveja no consoli, apezar di ki isso da cana la. nem lata di serveja vazia pod ter. a gent entra no carro i o cara abri 3 lata na horinha. uma pra você, uma pra você, uma pra mim. os otros 30% ja vao tirando o bazeado do bolso i oferecendo. os 40% ki sobrum tem uma caxa de serveja i um bazeado. pedir carona é facilimo. o pessoal rarament vai longi, mais em compensaçao para até cuando a gent num ta pedindo. im Mobile, no Alabama, nós pegamo uma carona até New Orleans. o cara fala ki nem um sul-americano (do sul dos States), ou seja, ki nem um sapo. óuk óuk óuk. o carro é grand mais só da problema. primero nós temo ki trocar o peneu, daí eli num ker mais pegar. mais tard comessa a xover i o limpador di para-briza num funsiona. o cara continua dirigindo até num ve mais porra nenhuma. eli para o carro i spera, mais como a xuva num ker parar eu sugiro mais por brincadera ki a gent de um nó nos limpador co barbant do meu tenis, acin eu puxo di ca i daí eli puxa di la. como o cara é americano eli aceita a minha ideia na hora i logo nós tamo na strada otra veis i vamo acin uns 100 km. na entrada pra New Orleans nós decemo i eli continua reto. ainda tem uns bons km i num parou di xover. ja anoiteceu i a gent num ta acreditando muito numa carona, mais no fim um carro para. no carro tao dois bebado pra la di Bagdad. o carro vai em zigzag na friuei (strada com varias pistas), as veis eli sai da strada e continua andando no campo. nós atraz mandando ver umas ave maria. mais acredit si kizer, o carro xega sem acident num buteco di criolo de New Orleans, ond os cara continuum bebendo. nós dois i os bebado somo os unico branco no boteco lotado, i todo mundo tratando a gent bem porkê os dois bebado aprezentarum a gent pro bar intero. gent fina. nao no sentido di saber comer macarrao direito, mais gent fina. mais tard uma mulher da uma carona na caza dela. nao pra caza, i sim com a caza. ela mora co filho num onibus scolar do tempo do onsa. limpinho e bonitinho, xeio di planta. ela mora fais muitos anos neli i da aula pro filho, o ki é permitido porkê ela é professora. si nao num dava, ki criansa im paiz sivilizado é obrigada a ir na scola. no Brazil tamen, mais ninguen conheci a lei i memo ki conhececi num adiantava nada.

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    na California tem tamen muito eremita. elis vem das compras ou vao pras compras i dao carona pra jent. sao os eremita americano, ki evidentment tem carro i vao comprar os hamburger na sidad. hamburger num creci na rossa.

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    os franceis deezem key sey a jent ker comer bem na Inglaterra e so tomar cafee da manhâ 3 ves por deea. e por aee vocey vey quey nem thudo e mau na inglaterra, pelo menos o cofee da manhâ e bom. thambem os fish & chips, pexe e fritas, sao bons. eu pelo menos gosto. na verdade e um negocio bem anti-inglez, gorduroso e com gosto de alguma coisa. mas de rest a culinary e um desaster. o pior e que eles nao sao como os american que nao leegam pra comeeda, eles se dao aow thrabalhow de fazer comeeda rueem. e gostam. mesmo num case em que eles nao podem fazer nada de erradow eles fazem. da um beef pra ele, e ele vai probablement cozinhar o coitadow e se nao tomar cuidadow vai botar molhow de hortelâ em ceema. ooma ves eu tow de hosped nooma casa e owssow que eles querem fazer oom curry. eu feecow alivied, finalment eu vow comer uma coisa decent, afinal e impossible fazer comeeda rueem cum curry. mas que nada rapaz. ooma hor eu pass pela cozeenha, dow ooma olhada na panela e vejow ooma mass collor de rose, comow se foss esgothow com colorant rose. mas eessow nao interess, interest é o gostow. infelizment o gostow nao e melhor do que a apparence.

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    thomar os inglez thomam sha. mas como eles sabem kee o sha e ooma bebeeda com gostow beng fort, eles mixtooram com leit pra neutralize. o coffee thambem é fort, ó, da ooma olhada akee, ely theng a mesma collour do sha, pro ce ther ooma idea. clear kee cooma bebeeda fort dessa o negocio thambem e mixture com leight. o problem e kee depois a gent nao sabe o kee tomow, foi sha ow foi coffee?

    a gent vy eng 3 pra irland ee volta. noo Paees dee Gales (Wales) oo persoal ainda fala oo galays (welsh), key e ooma lingua celta. eles theng o song mais estapafurdiow key ew ja ouvee: o ll. esse song e ooma mixtur dee r beng raspadow na garganta, x e lh. lloyd e ooma palavra galesa ee na verdad devereea ser pronunced rrrlhchoyd. e comow see vocee kisess pronounce roid, lhoid e choid» aw mesmow tempow ee stivess fortement griped. a nossa proxima station e Llangollen, e ew quero perguntar proo motorist see ele vy pra la.

    -descoolpa, sew mossow, oo senhor vy pra ...(eu prepare a bocka) vy pra rrrlhchlhangorrrlhchlhen?

    -pra Langólen? vow sing.

    oo motorist era inglays.

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    até agora os alemao parreziam gente normal, mas devagarrsinho eu komesso a notarr ummas diferenzen. as ves algen me da a maior broncka porr umma niniarria, kommo se eu tivesse dado um tirro nas bolla dele. o pessoal explode muinto fazil e as minia reaktion sao mais forte ainda. e no fin o karra nen ta nerrvos, esse é o naturell dele, prinzipalmente aki em bayern, ke é o povo mais grrosso da alemania. un minute depois o karra ven te pedirr un cigarrette. mas devagarrsinho eu vou entendendo kommo funktiona isso. ele é spontan quando ri e spontan quando schinga. ele nun é frrio, ele soh é sinzerro. as ves un pocko sinzerro demais prro meu gosto, mas rationalmente eu nun ascho isso mal. pelo menos vozee sempre sabe se ele gosta de vozee ou nao. o frranzees tamben é assin. ao kontrar do exo inglaterra-brrasil, onde tudo é mais ameno e vozee ten que adiviniarr o que ta akontezendo.

    o pessoal no firrma reklama muinto. o salarrio ta mal, o 13° ta mal, mas o trrabalio ta aumentando kada wes mais. mas é soh un chef passarr e ningen dis umma palawra. apesarr do fato de que eles ascham os dono da firma uns ladrrao, eles se sentem responsawel pela firma. neniun pais ten tanto ferriado kommo a alemania e neniun powo falta tanto no trrabalio kommo o alemao. mas os ke tao la, se ten ke trrabaliarr trrabaliam mesmo. sen duwwida esse dewe ser un dos segrredos porkee a alemania non ta kaindo pellas tabellas.

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    e agora mais um poco de dicionario:

    furacão - torturador de animais

    gafanhoto - um gago fanho e canhoto

    gayvota - eleitor homossexual

    hipoteca - boate pra cavalo

    homogenio - viado inteligente

    incesto - gol no basquete

    incremento - o contrario de excremento

    locomoção - grandão biruta

    menopausa - reclamação de trabalhador: tem cada vez menopausa nessa fabrica

    macaca - fezes de qualidade ruim

    negativa - preta trabalhadora

    padrinho - padrão reduzido. p. ex. o padrão de vida no brasil está se tornando um padrinho

    pica-pau - redundancia

    predominar - ser o chefão no pré-primario

    remoto - motocicleta que só vai pra tras

    sabão - cara que sabe muito

    sobrinha - restinho

    tamanco - não pode andar direito

    trepadeira - ninfomaniaca

    varão - vara enorme

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    brazilero, como eu ja dici, é bem visto akí. nos States eu fico content cuando o cara sab ki o Brazil é um paiz i nao uma marca di aspirador di pó. os ingleis num sab kem sao os brazilero mais num gostum. brazilero é latino-americano, i latino-americano é eci tipo di jent ki fala alto, dansa i suja os banhero i o ingleis num ker ter nada a ver com essa jentinha. o franceis gosta muito porkê axa ki o brazilero sim é ki curt o macimo a vida. i gosta da nossa muzica. o alemao tem mais ou menos a mezma opiniao. tev um passajero no taxi ki mi perguntou si eu sou txeco ou iugoslavo ou poloneis. eu dici ki eu sou brazilero. eli dici pra eu parar di snobar i dizer a verdad. os italiano tamen gostum di brazilero i sempri dizim HASTA LA VISTA, MUCHACHOS e OLÉ. os espanhol num gostum porkê pra elis brazilero fais part da jentalha sul-americana. os portugeis num gostum porkê axum brazilero arrogant. i devim ser memo. os scandinavo num sab di nada, os iugoslavo num gostum, os grego axum interessant, os slavo (russo, poloneis, txeco) da ex-cortina di ferro só conheci o Brazil da scrava Izaura.

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    Berlin. a jent xega i pega o metrô pro nordest da sidad, la pro auberg da juventud. na cama eu ainda dou uma olhada no mapa da sidad. a skerda fica Berlin Ocidental, a direita Berlin Oriental. opa, pera aí. si é pra acreditar neci mapa, o metrô passou por Berlin Oriental. num pod ser. a jent num pod ter pasado oj por um otro paiz sem saber. um metrô num pod ir no sterior! i si foci, a jent teria persebido. nao, num pod ser, mais amanhâ a jent vai ver isso direitinho. no mapa da até a impressao ki tem uma stassao do otro lado. como pod?

    reaument: no dia segint a jent discobri ki o metrô di Berlin é o unico ki passa por dois paizis. no muro di Berlin tem um montao de grafit:

    ARIA DI TREINAMENTO DI SAUTO DI AUTURA PARA ALEMAINS ORIENTAIS

    ou eci:

    PRÓCIMA COCA-COLA 10.000 KM.

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    LA FRANCE!

    ...

    -tu non tà pensand seriement en passer pour baix daquel camion?

    -eaux si teaux!

    -tu é louc, mon chape! deix eu sair desse porre!

    eu récognéci que serie faute de responsabilidé léver un inocent comig nun empreendiment desse. eu dé une brequé violente et deixé el sair. 2 cars des mes perseguiteurs bateron con tout atrez du mon car et eu dejà tave saind nu maieur pinot, con tout que la bombe du fusquin poudie dar. un vent fres acaricieaux minhe orelle êquerde, eu senti une grande paix d'espirit. et dai aconteceu. le car realment passeaux pour baix du camion, so le tet, les janèles et ma cabece ficaron. maudition, eu devie ter abaixé la teste, mais eu non posse penser en tout au mêm temp. graces à deux dejà tigne ambulance esperand du lad, que me transporteaux au hôpital. quer dizer, primer so ma tête, porquoi le rest du corp continueaux à tout vapeur co car, le pié tave en cime de l'acelerateur. depois de 7 kilomètres et 3 accidents meneurs la viature foi barré pour une paumère de 20 metres d'auture et un metre de grossure. els tentaron déséspérédément côturer ma tête nu rest de mon corp, mais non deu cert. eu morri 3 dies depuis. de faute de tête. ou comme brincharon les docteurs, de faute de corp. tu sabe comme sont esses docteurs, sempre fazend piadettes.

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    na Alemanha tem umas redundancia ki doi: nas fotocopiadora colorida tem um avizo dizendo: COPIAR DINHERO E ILEGAU. SUJEITO A PRIZAO. é bom saber, né? porkê ki elis num poim um avizo no banco dizendo: É PROIBIDO ASSAUTAR BANCOS. KEM O FIZER TERÁ KI CONTAR COM A PERSIGISSAO DA JUSTISSA.

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    todo povo tem vitima pras piada: o americano tem o polonês, o francês tem o belga, o inglês o irlandês, o alemao o austriaco, o brasilero o português. o unico povo que nao tem vitima pras piada é o português, porquê quando um português conta uma piada prum otro, os dois nao entendem.

    u pratu nacional é a bcalhuada. u bacalhau é impurtadu da nuruega. uma vez eu prguntu a um prtguês:

    -o prato nacional de vocês é a bacalhoada. comé que pode? ou vocês sao muito rico ou muito burro.

    u prtguês rspundeu:

    -é, prtgal é um país muintu pobr.

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    NO PAIZ DAS PESSOAS DI PIGMENTOS DI CLARIDAD REDUZIDA

    PIdindo carona atravez do Saara, eu incontro um suisso xamado Vontkomm, ki ta levando dois carro pra vender no Togo. Ants eli tinha incontrado no ferry-bout uma alemâ ki si xama Mabon, ki dirij o otro carro pra eli. Mais logo eli fica insatisfeito co jeito dela dirijir. Daí xego eu, i eli dexa eu dirijir o otro carro.

    um carro do Vontkomm num ta mais andando direito. eli ta com medo ki o carro vai xegar im frangalho ou ki num vai mais xegar. a partir di agora a jent vai ginxando o carro pra popar o dito cujo e popar gazoza. eli acelera na frent i eu breco atraz. ou vice-versa. a Mabon viv brigando com eli i vai no "meu" carro. a jent fala bastant bestera, fica cantando muzica do tempo do onsa i as veis até improviza muzica clacica contemporania, ki num tem mais compromisso nenhun com melodia i armonia. na noit sigint ela num ker mais dormir no carro do Vontkomm i vem dormir no meu carro. eu num fasso nada, eu sou muito timido pra essas coiza.

    as nossa rassao tao acabando, as lata di sardinha tudo vazia i num tem mais agua sufisient pra tomar banho. i o ke é pior, os sigarro tamen tao acabando. os fumant da marca SIMIDAO vao ficando cada veis mais numerozo, até ki no fim só tem um dando i o resto serrando. mais ants di acabar o ultimo sigarro a jent ve uma sidad no orizont, i dessa veis num é uma colina i sim uma sidad mezmo. bienvenue à Arlit, cet aimable oase dans le desert. im Arlit tem lata di sardinha, café, omelet i sigarro pra dar i vender. uma maravilha di sidad.

    depois di passar por paiz mussuumano, é uma delicia xegar num paiz di criolo. ker dizer, o Niger tamen é um paiz mussuumano, mais o povo é completament diferent. cristao pod ser tao diferent cuanto os amish dos States, ki anda di carrossa porkê dis ki carro é pecado, i o cristao da Jamaica ki fuma uma maconha ants di ir pra igreja. acin tamen tem povo mussuumano fundamentalista i povo mussuumano liberau. na Africa do Nort ce num ve mulher, ce só ve ropa. elas só olhum atravez di um furinho no veu. a muzica arab depois di um tempo comessa a inxer o saco, os boteco xeio di omi tamen num melhora muinto o vizuau i tudo comessa deprimir depois di um tempo. Arlit no norte do Niger é uma coiza bem diferent. uma sidad bem pikena, mais com mais vida noturna ki Londres. os boteco ficum aberto a noit toda, é uma zoera danada, vira i mex tem mulher batendo im omi i tudo é muinto ingrassado. muinta serveja, a molecada passa a cada 5 minuto cum spetinho, i os auto-falant soutando Bob Marley a todo vapor. tudo muinto bom, gostei mezmo.

    as mulher do nosso comboio num tinhum muinto pudor na viajim nao. no dezerto elas vivium mijando cuando tinhum vontad, sem xegar mais prum canto cuauker. tamen, ondé ki ce vai axar um arbusto no Saara? intao tanto fazia si todo mundo tava do lado. veis por otra a jent kiria jogar os pano no xao pra fazer o picnic i via ki num dava porkê augen ja tinha mijado alí. i akí im Arlit elas num mudarum, só ki elas pedim pro pessoal fazer uma serkinha im vouta. si só tem uma pessoa, daí a pessoa tem ki fazer uma serkinha di uma pessoa só, uai. isso na prassa sentrau da sidad.

    mais pro suu de Arlit a paizajim vai ficando mais amigaviu. a zona do sahel ainda é bem seca, mais ce ja ve umas paumera, ki vao ficando cada veis mais numeroza. no fim vira savana. eu vou paciar no mato com a Mabon. eu pergunto si ela ja pensou no risco ki ta correndo, indo paciar cum brazilero no mato. ela dis:

    -ah, é arriscado, é? i o ke ki os brazilero fazim, cuando a jent vai com elis no mato?

    é, agora siria a minha veis di jogar. mais eu sou timido i instintivament eu continuo fieu. mais tard a jent vai dormir i eu mais uma veis sujo a imajim do brazilero. o nosso carro até ta mais lonj dos otro, todo mundo ta dormindo i num teria problema nenhun.

    -i você num tem medo di dormir num carro cum brazilero dentro?

    -na verdad nao. eu tou com a impressao ki brazilero num é muinto pirigozo nao.

    ah, isso é dimais. agora ofendeu a rassa. os banco ja tao cuazi orizontau mezmo, eu tiro a camizola dela sem dizer uma palavra, mais como ta meio complicado eu vou razgando mezmo, da calsinha só fica uns resto. eu pego ela por trais e entro nela com tudo, i a mulher vai ficando roxa. ela cuazi num conseg mais respirar, eu axo ki eu ezajerei. o corpo carnudo dela tremi imbaxo da minha raiva i do meu orgulho proprio firido. ela ta berrando i eu axo ki ningen mais ta dormindo. acin teria ki ser. como foi di verdad, ce ja sab. eu acabei di fumar, mi deitei i adormecí.

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    um dia eu pegu carona cum caminhaum mais velhu. tauveis da sigunda gerra mundiau, tauveis da primera. issu naum siria muitu problematicu numa strada boa, mais akí esa combinassau de caminhaum velhu com strada ruim é um dzastri. rarament u caminhaum conseg andar mais ki 200 m sem incalhar na areia. i toda veis tem ki decer todu mundo, uns cavum um pocu na areia im vouta dos peneu incuantu otrus vaum catar pedra i galhu pra botar im vouta dus ditu cuju, i daí todu mundu impurrandu. na verdad naum é u caminhaum ki ta levandu a jent, é a jent ki ta levandu u caminhaum. nu fim da tard us passajeru, ker dzer, us impurrador taum nu maó pregu. i a jent incalhou num vilareju. u motorista grita:

    -o criansada, kem ajudar a jent a sair dakí pod andar di caminhaum augunz kilometro! di grassa!

    i de repent é a maior zoera. 30, 40, 50 criansa cavandu, prucurandu, trazendu, impurrandu i nem 5 minutu depois u caminhaum ta andandu di novu. as criansa imbarcum (comu si ja num tiveci jent suficient im sima) i eu axu ki nem uma formiga axava um lugar neci caminhaum. as criansa comessum a cantar, i eu num acreditu nu ki to ovindu. é um canom cumas 6 vozis, uma locura. de repent, im sima deci caminhaum pra la di lotadu, nu meiu du matu, eu mi sintu ki nem numa catedrau. num paiz brancu axu ki um maestru psava di uns 20 anu cum muzicu di primera pra atinjir essa perfeissao, essa grandiozidad. i essas criansa, neci cruzamentu ond u nunca si incontra cu nada, só daum eci xou purkê num tem u ki fazer. im todu cazu: das 6 da manhan as 6 da tard, l2 ora di viajim, u caminhaum feis 15 km, pra mim um novu record di vagareza. nós dormimu num vilareju, na manhan sigint u caminhaum sai i eu tamen. claru ki eu a pé. logu eu dexu u caminhaum pra trais i nunca mais eu veju eli.

    uma veis mi oferesim cupin cru. u pratu, feitu di folha di banana, fais a roda i a minha veis xega sem ki eu tenha tempu di fujir. tem ki comer, né? noblesse oblige. us cupin cru tem gostu di cupin cru, tava na cara. eu prifiria um filé minhon, mais infin, carni é carni.

    xxx

    im München tem um riu ki si xama Isar. é um riu ki us alemaum xama di suju, mais dev se mais limpu ki muinta agua incanada nu Braziu. as marjins du Isar tem prainha, campu, ets. muinta jent toma banhu di sóu pelada, ki é pra num te marca nas part pudenda. um dia eu to deitadu di brussu, peladaum, cuazi adormecendu, i ossu duas minina xegá pertu di mim. elas si deitum tamen i continuum conversandu. primeru é a melodia ki mi xama a atensao, uma melodia ki eu conhessu bem. daí eu prestu mais atensaum i notu ki elas saum brazilera. elas taum conversandu sobri omi. é, u fernandu tem umas perna bonita, né, mais u peitu eu num axu bom naum. e eci Walter é um tezaum, ets. i vaum falandu di omi. uma ora cuauker uma dis ki axa ki us alemaum num tem bunda, ki brazileru tem bunda melhor ki alemaum. a, é nessa ki eu entru. eu mi viru pra elas i perguntu:

    -a, vocez axum meeezmu, é?

    xxx

    a Zambia ta bem pior economicament du ki na uutima veis ki eu tiv akí. u governu du prezident Kaunda num é nem capitalista nem comunista, i sim umanista. eu num sei u ke ki issu ké dze na pratica, mais pareci ki num fais muintu bem pru paiz naum. fauta tudu. nus restaurant num tem nada pra comê nem pra bebê. nem coca-cola. nem serveja. só agua. mezmu acin elis ficum abertu, purkê u donu i us garson num tem nada u ki fazê memu.

    im Lusaka mais uma veis eu vo vizitá u pessoal da Yielding Tree Farm, ond eu fikei a uutima veis. um dia eu to sentadu na minha cazinha screvendu carta, us meus fosforu acabum, eu vo na sidad comprá fosforu. saum só 13 km. na sidad eu compru fosforu i comessu a voutá pra caza. eu passu im frent di um restaurant, 50 m depois mi ocorri ki num siria mau tomá um pocu di agua. eu voutu pru restaurant i constatu ki eli ta fexadu. é domingu. eu continuu u meu caminhu, depois di 10 m um caminhaum breca du meu ladu. tem 3 cara dentru i elis mi perguntum porkê ki eu to indu pra sima i pra baxu na rua. –u ke, pra sima i pra baxo? eu fui alí nu restaurant pra tomá uma agua, eli tava fexadu, i agora eu to voutandu pra caza!

    -ezatament! u restaurant ta fexadu! purkê ke ce foi la, si eli tava fexadu?

    -purkê eu num sabia ki eli tava fexadu, uai.

    -vamo, vamo! splica eci negociu direito! purkê ki ce foi nu restaurant, si eli tava fexadu?

    -mais si eu ja dici. eu num sabia, uai.

    elis perguntum mais uma veis i eu mi enxu u sacu. elis kerim ve u meu passaport. eu perguntu si elis saum us donu du restaurant o da policia. elis repetim ki kerim ve u meu passaport. agora xega. eu comessu a andá. elis saim du caminhaum i tentum mi segurá. eu impurru elis pru ladu i vo abrindu u meu caminhu. de repent num saum só 3, saum 6. i 2 ja taum cum pedra na maum. xi rapais, essa storia ta ficandu cada veis mais complicada. eu saiu correndu, elis atrais. eu so mais rapidu ki elis, mais elis vaum ficandu cada veis mais nu plurau, incuantu ki eu num saiu du singular. entrements tem uns 20 ou 30 negu atrais di mim, gritandu "pega eci cara! pega eci cara". mais eu to ficandu cansadu di corrê, eu passu im frent di uma fabrica, u porteru mi pergunta u ke ki ta acontecendu.

    -sei la u ke ki ta acontecendu! ecis cara taum bebadu o taum locu i taum kerendu mi scaupelá.

    -entra akí na fabrica, akí ce ta im siguransa.

    eu entru na fabrica, a muutidaum xega i u filhu da puta du porteru dexa a muutidaum entrá. elis mi segurum, mi sercum, augunz ja taum gritandu:

    -mata eli! da uns tiru neli! keima eci cara! spiaum suu-africanu!

    a essas auturas du campionatu eu ja num to mais mi sintindu bem.

    mas eu num vo contá tudu pra num tirá u suspensi)

    xxx

    Leningradu, Uniaum Soviética. stassaum di trem, 23 oras. meu trem sai as 23:l5. eu mostru a minha passagem pru primeru fiscau ki eu incontru nu trem, eli manda eu i nu vagaum sigint. nu vagaum sigint u fiscau mi manda falá cu fiscau du vagaum sigint, ki mi manda falá cu xef, ki ta nu vagaum du meiu. eu axu u xef, eli mi manda passá nu gixê. eu olhu pru gixê la lonj i veju uma fila di umas 40 pessoa. eu digu ki si eu for sperá a minha veis nu gixê eu ainda vo ta nessa stassaum dakí a uma semana, naum só tem akela fila enormi comu tamen u gixê ta fexadu. i eu só tenhu 4 minutu pra pegá u trem das onz. i kinz. u fiscau-xef num ta nem aí, num é problema deli. eu tentu conversá, splicá, mais eli num ta interessadu i vai indu imbora. eu to di sacu xeiu, jogu a boussa i a passajim nu xaum i gritu cum tudu ki us puumaum aguenta:

    PUTAKEUPARIU SEIS SAUM TUDU UNS FILHUS DAS PUTA UNS CANALHA ISSU É UMA SENVERGONHICI SEM PRECENDENT SEUS CAXORRU RUSSU DU CARALHU U REAGAN É KI TINHA RAZAUM U NEGOCIU É BOMBARDIÁ ESSA PORRA ESSA BOSTA PRA MIM SEIS SAUM TUDU UNS CRIMINOZU DI SIGUNDA CLACI, etc etc.

    issu tudu eu digu im bavaru, ki é uma lingua boa pra xinga. russu eu num sei memu. i memu ki eu sobeci eu num falava, ki eu num so besta, né. bom, cum eci xilic toda a stassaum di Leningrad para. ningen mais fala uma palavra nem anda um passu. só u xef vem correndu i mi leva pru primeru vagaum. é pra eu mi acaumá, ja ta tudu sertu. u primeru vagaum é primericima claci, só tem eu i a tripulassaum. eu pegu uma cabini-leitu di luxu, num passa nem um minutu i um cara mi trais um xa, um otru trais biscoitinhu. a, agora ta melhorandu, mais pudia se sempri acin, né?

    xxx

    Minha mulher mi abandona i eu vo a cassa. Eu ponhu um anunsiu nu jornau: "eu tenhu 29 anu mais paressu comu kem tem 28. I antigament eu era mais jovim. Si você axa ki eu so u omi ideau, manda uma carta pra mim, cum fotu pur favor. Si você num tem uma aparensia muintu boa, manda dinheru." U jornau num kis publicá, pur cauza da palavra dinheru, daí eu substituí a palavra dinheru pur cartaum postau i ganhei um montaum di cartaum postau.

    xxx

    U Djibuti é um paiz pikenu nu nariz da Africa i é muintu caru. A serveja vem da Alemanha i custa 5 dollares, u papeu ijenicu é importadu da Xina i akí você perseb ki mezmu pra fazê papeu ijenicu ce psiza di nou-rau, i us chineis num tem eci nou-hau. U xocolat é du Braziu. U gostu du xocolat brazileru num é taum bom cuantu du xocolat suissu mais bem melhor ki du papeu ijenicu xineis.

    xxx

    Tuvalu é uma republiketa nu Pacificu Suu. A ilha tem 30 km di comprimentu i 200 m di largura. Cum maré baxa a largura dobra. U paiz só tem um restaurant i uma rua. Faciu pra motorista di taxi, né? U passageru entra, u motorista pergunta: pra frent o pra trais?

    AS REGRAS DO BRAZILEIS

    A primeira mudança: palavras e expressões usadas pelo povo brasileiro se tornam oficiais. Isso não quer dizer que a nobre linguagem escrita, que sempre habitou os palácios, tenha que sair correndo. A gente não vai repetir a revolução francesa. Mas ela vai ter que se acostumar a ter o povão no palácio dela, com os mesmo direito e dever. Algumas expressões que viram oficial:

    A concordância no adjetivo e substantivo pro plural (os cavalos doidos, 2 carros) não é mais obrigatória (os cavalo doido, 2 carro).

    O verbo estar pode ser escrito tar (eu tou, cê tá (tu tá), ele tá, a gente tá, etc).

    As preposição na/no em vez de à/ao (eu vou no banheiro).

    O verbo ter pra haver: tem alguém aí?

    A introdução de um é que nas pergunta: como é que cê foi lá? quando é que cê chegou? Também a forma abreviada é permitida: comé que cê foi lá? quandé que cê chegou?

    O pretérito imperfeito em vez do condicional: a gente podia ir lá junto. Se esse cara baixasse aqui, eu matava ele.

    Mesmo também pode ser escrito memo, mermo, homem pode ser escrito home.

    O uso da virgula passa a ser livre. Cê põe a virgula onde cê achar que uma pausa na respiração ou uma pausa "explicativa", "separatória", é necessária.

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    Mudança número 2 é uma mudança só pra mim: eu não uso praticamente mais as maiúscula. eu não quero fazer disso uma proposta oficial, eu acho que do jeito que tá, tá bom. mas eu não escrevo maiúscula faz anos e não vou começar agora. claro, quem quiser que escreva assim, mas isso faz parte da liberdade de cada um. por mim só vou escrever maiúscula quando não for claro que um nome próprio é próprio, por exemplo quando o nome não for muito comum ou o nome geográfico for pouco conhecido. assim eu escrevo europa, rússia, australia, mas escrevo Vanuatu, Lesotho e Arlit. os dois primeiro são países, o último é uma cidade no saara. saara cê manja, né? se não manjar, pó parar de ler o livro.

    outra coisa: eu vou usar nomes geográficos no original, a não ser que eles sejam muito difícil de ser pronunciado ou irreconhecível. de resto: new york e não nova iorque, los angeles e não os anjos, berlin e não ursinho.

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    Mudança número 3: das língua ocidental, nenhuma tem tanto acento como o português. e nenhuma tem tanto tipo de acento: agudo, circunflexo, grave, til e trema. as regra de acentuação do português ocupam uma página inteira, e exige do escrevedor o conhecimento de conceitos como ditongo oral decrescente, monossílabos tônicos e o scumbal. e as exceção enchem mais algumas página.

    a partir de agora:

    vogal tônica no fim da palavra com mais de uma sílaba leva acento (babá, café). palavra cuma única vogal terminada em â, é ou ó leva acento (râ, pé, pó).

    um S depois de um desses casos nao dispensa o acento: babás, cafés, râs, pés.

    essa é a regra. e aquí mais uns esclarecimentos:

    o acento diferencial é opcional, eu só vou usar se precisar memo (ele pôde, a fórma da fôrma). o trema e o grave desaparecem. o til no fim da palavra é substituido pelo circunflexo. amanhâ. o ao, ae e oe perdem o til.

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    mudança n° 4. ei e ou que se pronunciam e e o sao escritos com e e o.

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    e aquí a mudança numero 5: o s e o z finais. agora em principio se termina a palavra com s, a nao ser que a ultima vogal seja a tonica. rapaz, portuguez, nariz, arroz, onibus, eu fis, des (10), casas.

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    numero 6: m ou n no fim de palavra: em principio é m, mas quando a ultima vogal for tonica, n. eles foram assin memo, e de abdomem eles tamben nao precisaram.

    ou seja: palavra terminada em z ou n tem a ultima vogal tonica.

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    a mudança numero 7. hoje vamo começar a tratar as letra por ordem alfabetica.

    o a tem 4 sons no brasilez: á, â, ai e u.

    quando ele for pronunciado ai, vamo escrever ai: mais eli num fais o que deve.

    quando o ai for pronunciado a, escreve a: paxao.

    quando for pronunciado u, escreve u: eles matum, eles comerum.

    quando o a ta duplicado e é pronunciado uma ves só, a gente escreve ele uma ves só: catinga.

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    mudança 8. o b vai ser sempre pronunciado como b, e só quando se pronunciar o b é que se vai escrever ele. eu só conheço um caso em que o b ta escrito e geralmente num é pronunciado: na palavra tamben, que em geral se pronuncia tamen. e é assin que eu vou escrever agora: tamen.

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    mudança 9: agora sim, vai mudar tudo. é a mudança que mais muda o visual da lingua.

    1. o som de k normalmente continua a ser escrito com c, mais com k antes de e ou i: cara, kente, kintal, colo, curva, cuando.

    2a. o som de ss vai ser escrito normalmente com s: a onsa saiu do sinema depois de comer o lanterninha.

    poren:

    o som de ss entre duas vogais é escrito com ss, a num ser ke a vogal seguinte seja e ou i, cazo em ke se escreverá com c: assar, parece, interece, policia, passo.

    3.o som de z vai ser escrito com z: eu por ezemplo cazei cum mizeravel.

    se deveria ser a abreviassao de você (cê), mais como é muito facil confundir com o pronome reflexivo ou a conjunsao, vamo dexar ce mezmo. mezmo ke a partir de agora eu escreva si pra se. pra evitar cualker tipo de problema. depois de uns 10 ano, cuando a gente tiver si acostumado ke se si escreve si, a gente pode comessar a escrever se pra ce.

    no final da palavra continua valendo a regra do S/Z: em prinsipio S, a nao ser ke a ultima vogal seja acentuada.

    no livro Zé do Rock – o eroi sem nem um agá a regra é mais simples, cualker som de ss é escrito com s simples. o problema é ke muita gente reclamou, porkê um s simples entre vogais parece soar z: o polisial asa as azas do pasarinho. Podia fazer todos ss intervocalicos com ss, mais daí a lingua fica mais comprida do ke ja é.

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    mudansa numero 10: o ch é escrito com x. O xuxu xarmozo tava xeio de xixí.

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    mudansa 11, uma ke tamben muda bastante o vizual. hoje a gente vai tratar do e.

    o e tem som de ê, é, i forte, i fraco quaze sumido e ei.

    e com som de i fraco, cuaze sumindo, eu nao screvo mais, a nao ser depois di l, m, n, r, s, z (molec, mais vali e nao val) i cuando for mono-silabo (rio di janero, nao rio d janero).

    otros cazos: no comesso de palavra, só dezaparece antes de um s: sperar na scola.

    no prefixo des-, dis-: dzaparecer.

    na silaba final –tes: ants do tempo di abrants.

    e com som de ei é scrito com ei: o portugueis feis bobagim.

    i dakí por diant eu vou abrazilerar as palavra strangera: nou-rau, milc-xeic, cul.

    tem cazos ond o e i i num sao scrito mais sao pronunsiado. peneu, pisicologia. eu digo peneu, mais eu tenho alergia a dzer pisicologia, abistrato. mais kem dis, ki screva.

    AE e OE nazal passum a ser scrito AIM, OIM, plural AINS, OINS.

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    mudansa 12: o g pasa a ter só o som di g di gato. o g di gent pasa a ser scrito com j. o gato consigiu comer toda a jeleia do jeneral.

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    mudansa 13: o h somi. ker dizer, somi como letra independent. omim, ora. tem dois cazos im ki a mudansa é opsional, porkê si trata di 2 palavras internacionalicimas: hotel i hospital. pod screver otel i ospital (mais tard oteu i ospitau), mais pod continuar screvendo como sempri screveu. si trata di um servisso pro turista: si eli for assaltado, levar um balasso na cara i for procurar um hospital, eli é capais di passar im frent di um ospitau i pensar ki é pastelaria. prinsipalment com todo akeli sang. di resto continua izistindo o lh e o nh. o piolho apanhou da abelha no banho.

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    mudansa 14: o l ki num é sigido di vogal, ki é pronunsiado u, vai ser scrito com u: nacionau, papeu, miu, vouta, puuga.

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    mudansa 15: o lh e o li. as duas combinassao tem o mezmo som, tanto fais a jent screver filho ou filio, familia ou familha. vamo screver tudo com lh, porkê a grand maioria das palavra tem lh, nao li. claro, si o i é tonico, screv com i: filho, familha, folha (di arvori), folia (augazarra). ou essa secuensia:

    alho - alho

    hélio - elho

    olho - olho (opsionau ôlho)

    olho (eu olho) - olho (opsionau ólho)

    óleo - olho (opsionau ólho)

    no portugeis duas palavra ki sao pronunsiada diferent sao scrita iguau (o olho e eu olho), incuanto ki a otra, ki é pronunsiada iguau, é scrita diferent (óleo, pronunsiada como eu olho). um absurdo.

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    mudansa 16: palavra ki tem n na fala i na scrita até agora num tev, vai ter agora. mais a unica palavra ki eu conhesso com eci fenomeno é muito. agora é muinto.

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    mudansa 17: o o ki é pronunsiado u tamen é scritu cum u. mundu locu. u o ki é prununsiadu oi é scritu cum oi: nois comemu arrois. cuandu si prununsia u ou comu o, screv só cum o: eu vo, eu to, eu so. eu vo pru Riu nu vou 101 da VARIG. u ao nazau, ki teria ki ser scritu au i siria cunfundidu cu au ki veiu du al (nacionau - concluzau), passa a ser scritu aum. a sidad di Saum Paulu pod ser scrita Sam Paulu tamen, ki é a prununsia mais corrent. u ai nazau (mae) passa a ser scritu aim. u oe-oes passa pra oim-oins.

    nu livru eu uzu âu im veis di aum, mais cu adventu da internet u negociu é reduzir us acentu u macimu ki der.

    tamben akí tem divergensia nus dialetu: eu digu cumida, mas comer (comê). tem muintu negu ke dis cumida e cumer. ki screva acin, pois. nu fim vai ser u memu, ki nem em Purtugal.

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    mudansa 18: u r ki num é prununsiadu dizapareci. eu só num prununsiu r du infinitivu: falá, comê, durmí. mais tem jent ki tamen dis: dotô, populá, ets. daí pod screvê acin tamen.

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    numiru 19, a mudansa finau: u u num tem muintu segredu, eli im jerau é prununsiadu u. só ants de s/z eli pod se prununsiadu ui: eu digu lus, mais digu puis (eu puis u copu na meza). i as veis eli dzapareci: oculus im jerau é prununsiadu oclus, i eu screvu oclus. kem dis luis (nada a ve cu nomi propriu luiz) ki screva luis.

     

    Di vouta au bak tu zuryk zu INDEX.